Le Petit Fred

quinta-feira, 20 de outubro de 2005

A Paródia completa

Quando se é um inglês em Nova Iorque, um tripeiro em Lisboa ou um qualquer indivíduo culturalmente mais evoluído numa cidade mais cosmopolita que a sua, é-se um estrangeiro. Um pequeno estrangeiro, no meu caso.

Há coisas que só um estrangeiro faz. Como o que fiz ontem. Eu e outro estrangeiro como eu. Tinhamos ido ao Teatro (ver post anterior). Tudo indicava que iríamos para casa. E foi nesse sentido - e nessa direcção - que nos deslocamos. Por entre uma e outra argumentação sobre os vários temas que a peça nos inspirou, surgiu a vontade de ir verificar a qualidade do bar que uns tempos antes nos tinham recomendado, por sinal ali ao lado. E o sinal estava verde. Descendo a rua (que tem nome actual) íamos analisando cada porta e pórtico com intenção de descobrir qual delas abriria para um espaço de lazer nocturno. O fascínio foi imediato o que ficou expresso nas nossas caras espantadas. A porta estava entreaberta não permitindo observar o espaço por dentro, mas a decoração exterior não permitia dúvidar da qualidade do mesmo. Não era vistoso, é nos pequenos pormenores que se apercebe estas coisas! Lugar á porta, nunca falha, mesmo nesta cidade.

O Bar é do género Inglês. O que significa o que acabei de dizer nem eu o sei em exactidão. Como se
eu fosse alguém viajado no tempo e espaço para saber qual o genuíno género de um bar de um qualquer county da grande bretanha! Mas foi-me ensinado assim, que um bar inglês é recheado de velharias, antiguidades, colecções, estatuetas, placards publicitários e referências a bebidas por toda a parede, balcão, mesas e tecto... assim como este em que acabara de entrar. A unicidade deste está - para além da colecção de nús (pintadas, desenhadas, esculpidas) - na referência constante a Rafael Bordallo Pinheiro na sua colecção, em particular a uma revista editada por si com o mesmo nome (do bar - deste). A parede à esquerda (quando se entra) está forrada com primeiras páginas da revista (A Paródia - para quem ainda não percebeu).

Sentamo-nos numa mesa contígua a essa mesma parede. Uma mesa redonda para duas pessoas com um pequeno candeeiro antigo, daqueles com fios entrelaçados pendurados ao abat-jour, pousado. A luz da sala era amarelada com uma intensidade amena, provocada pelas várias lâmpadas incandestes dos diveros candeeiros espalhados pela sala.
Pedimos duas cervejas e recomeçamos a conversar sobre a peça. As cervejas chegaram acompanhadas de pipocas salgadas, a conversa animou e rapidamente as pipocas e as cervejas acabaram e com elas a conversa. Foi nesse instante que nos apercebemos da solidão. Dois estrangeiros num bar de uma cidade que não a deles, no próprio bairro onde provisóriamente vivem. E decidimos mudar. Levantamo-nos e dirigimo-nos ao pequeno balcão de madeira numa ainda mais pequena sala anexa à que estavamos, forrada a caixas de fósforos onde se sentavam os amigos dos empregados. Pedimos para lhes fazer companhia e com eles ficamos, conversando sobre música, teatro e devanando para fotografia e capas de revistas. Ficamos até às tantas, e às tantas ficamos de voltar. Quando nos sentirmos sós.

(em correcção ortográfica, gramatical e de ligaçoes)

A Paródia

(O Pavilhão Chinês de Campo de Ourique)
Rua do Patrocínio, 26 B
1350-230 Lisboa

6 comentários:

Anónimo disse...

E voltaram?

JoanicaPuff! disse...

Olha lá,

não encontrei outro sitio para dizer que vai ser mesmo muito dificil o Pedro ganhar!
Está 5 estrelas aquele post!! Muito bem.
Continuem

P.S Recorre aos serviços da Mariana porque HÀ lá um erro grave ;)

lpf disse...

Obrigado Joaninha!

Ja agora aproveito para comunicar aos meus leitores o novo blog e referido "post".

O Velho Poeta

Flávio disse...

Belo post.

Em matéria de estrangeirismos, eu próprio fui há algumas semanas atrás um forasteiro - no seu sentido mais corriqueiro e próprio. Em Berlim. Os alemães trataram-me lindamente (o meu Gastgeber, em particular, fez-me sentir como um rei), mas a experiência foi mesmo assim assustadora. Não sei porquê, mas de cada vez que saia sozinho à rua, dava por mim a olhar constantemente sobre o ombro.

Um abraço!

Flávio

www.a-bomba.blogspot.com

Anónimo disse...

ahhhhh....sou de lx mas agora vivo longe. encontrei este blog por acaso mas o k encontrei fez-me sentir mais perto de casa. Conheço bem a paródia....sempre que la fui foram noites bem passadas. Ouvi dizer que o ambiente tinha mudado, espero que a mudança nao tenha sido muito grande. Ir ate la e beber 1 irish coffee enquanto se ouve musica de cabaret...viajamos pa outro mundo. Aconselhado a todas as pessoas que gostem de mudar de ares e que queiram variar do ambiente tipico de lx...

Martini disse...

Grande bar, onde se ouve boa música :)