Le Petit Fred

terça-feira, 26 de julho de 2005

Ensaio sobre a lucidez

Era a véspera do último exame. Após tantos anos, este momento tornara-se muito mais do que um ... digamos que se tratava de uma questão de orgulho. Havia a necessidade de provar que o caminho optado cruzava os caminhos aconselhados.
Era tarde. Não me peçam para conseguir descobrir porque me deitava tarde na véspera do último exame, simplesmente recordo que me sentia bem. Presumo que não tenha estado a estudar, portanto. Tornara-se necessário preparar o despertador para sonar bem cedo de modo a que pudesse refrescar a ocupação cerebral ainda antes da prova. O episódio seguinte, os factos, se acordei a horas, como foi o caminho para o exame, o estudo anterior a este, ou mesmo o próprio, não me recordo. Mas sinto ainda hoje a raiva por ter feito o despertador cair aquela hora matinal para detrás da cama, num compartimento semi-fechado entre esta e a parede. Com pressa, não o fui de lá retirar; para o conseguir iria dispender de uns bons cinco minutos e outras tantas calorias, e ambos me pareciam necessários para o objectivo a que me propunha.
Do que me lembro depois, cronologicamente falando, é da noite seguinte. Estava exausto; foram poucas as horas de sono na noite anterior e o corpo ressentia-se de tal. Devo-me ter deitado tarde, os exames tinham acabado e com eles as obrigações de cedo despertar. Tao cansado estava que o meu corpo não consegue reagir ao som incomodativo do alarme a soar vindo de tras da cama. Os sensores auditivos alertam como podem o cerebro para este tomar uma atitude em relacao aquela violencia sonora, e este, apos um periodo de reflexao, comunica a paz a todo o corpo depois de ter concluido que o ruido iria parar em menos de um minuto. E o corpo descansou.
Não sei precisar quantas vezes voltei a sentir o mesmo, mas sinto que o evento se repetiu diariamente durante os tempos que se seguiram. Digo-o pelo que sinto. Sinto-me a despertar alarmado por breves instantes e a sentir-me descansado instantes depois. Sinto-me a ser conflituoso e a perder a paciência rápidamente. Sinto-me cansado constantemente. Sinto o despertador atras da cama mas nao me sinto preocupado com isso.
Certo dia já em pleno inverno, e digo-o pela sensação de acordar com frio, desperto e levanto-me rápidamente da cama. Sinto-me estranhamente bem. Tal sensação provoca uma necessidade em mim de descobrir a razão de tal disposição. Observo á minha volta e absorvo a minha revolta quando deparo com o despertador pousado em cima da mesa da cabeceira. Esta imagem ficou registada. O zoom permite visualizar somente o despetador. Tudo á volta está desfocado. Está desligado.
Não quero pensar há quanto tempo o despertador lá se encontrava. Tenho ideia de ali o ver tempos antes, mas não posso ter certezas se foi antes ou depois do meu último exame. O que não me lembro é de o ter ido buscar. Provavelmente alguém o fez que não eu. Não me permito recordar. Estou lúcido novamente.

(Momentos da vida de le petit Fred, 2005)

2 comentários:

Anónimo disse...

Foi uma das coisas mais incríveis que já ouvi... mas ri-me muito mais ao lê-la...só tu ;)

andre disse...

e então sou eu o distraido? ;)
ensinamento do dia: depois de entrar em férias tirar as pilhas a tudo!