Le Petit Fred

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

O Discurso

Não me parece credível, aqui e agora, o que ouvi. Afastado do local onde o escutei uns dias após a ocorrência do facto, não me soa nada bem. Foquemo-nos então na ocorrência.

As pessoas que inicialmente se assemelhavam a um conjunto de seres humanos à volta de uma mesa estavam, de facto, ao redor de várias mesas. Todos os seres, incluindo o que debaixo de uma das mesas se encontrava, dirigiam o seu olhar para mim. Eu estava de pé. Fazia-se um silêncio como nunca antes naquela sala, naquela noite, se escutara ou escutaria. Emocionado, fiz um discurso. Confesso que não o tinha preparado nem planeado. Admito até, se tal for necessário para que melhor me compreendam, que sou capaz de o ter acelerado ou resumido devido à emoção. Agora, o que não consigo compreender, é que me tenham acusado de o não ter feito.

Para quem, durante o intervalo de tempo em que o discurso durou, não se apercebeu ou não o absorveu, decidi escreve-lo. Os outros, terão a possibilidade de o relembrar ao ler as linhas de texto que se seguem.


O Discurso

"Caros amigos, amigas, primos, primas, companheiros, camaradas... palhaços aí ao fundo que náo se sabem comportar e não se calam,

Parece que fui abencoado. E não o digo pela carga de água que continua a cair sobre estes telhados de zinco. Digo-o porque me sinto um felizardo. Não é de hoje que costumo ter sorte, daquela que nos esquecemos frequentemente e raramente valorizamos, como quando precisamos mesmo de apanhar o autocarro por estarmos atrasados... e conseguimos apanhar o seguinte. Sortes dessas hà muitas! Acredito mesmo que haja para aí algo inexplicável que me ajuda, ampara e levanta a cabeça para a lua... e já o pude observar algumas vezes. O preço que me irá pedir por isso é que ainda estou para ver!
Mas o que eu estou para aqui a tentar dizer é que esssa sorte que eu penso existir não se compara à sorte que realmente tenho. E constatei-o aqui neste momento. Estou rodeado de 34 macacos e um cão que olham para mim como se eu fosse um animal diferente. Vi nos 70 olhos que me fitavam, o meu reflexo... um animal pateta com um sorriso idiota na cara. E não imaginam como me sinto feliz por parecer assim. Sinto-me o mais feliz do mundo e se calhar é nisso que estou diferente. Espero que estejam felizes por aqui estar mas é dificil, realmente, estarem tão felizes, neste momento, como eu.
Os meus amigos, a minha familia, os meus companheiros, a minha cadela e aqueles palhaços que tanto gosto mas que ainda não se calaram um segundo, estão aqui comigo porque eu os convidei! E não foi preciso insistir mais de 3 vezes com cada um. Nem ameaçar que lhes partia as pernas. Nem fingir que fazia 30 anos quando realmente o que estou aqui a comemorar é a entrada no meu trigésimo aniversário... Bastou dizer que ia haver uma festança com concerto e bar aberto. Que, aviso já, por motivos alheios à organização não irá ser possível concretizar!

Durante os últimos dias senti-me ansioso e enervado. Com dúvidas e medos. A distância a que estou normalmente de cada um de vós, o afastamento pelo qual optei para ir experimentar viver numa outra cidade, esta ausência não é atenuada pelo contacto telefónico esporádico, pelas conversas no messenger, pelos encontros ocasionais. Não nos confratenizamos como antigamente. Perdemos o contacto com as rotinas comuns. O café, o cigarro, o charuto, o copo... Tenho medo de perder a vossa amizade e como tal, tive medo de vos encarar neste jantar e preocupei-me para que este convívio fosse do agrado de todos. Acabei por fazê-lo ao meu gosto para arranjar um elemento comum. Espero que o tenha conseguido.
Obrigado por terem vindo. Rapar um frio de morrer. Apanhar chuva na tola. Comer soja em vez de carne. Ficar à conversa em vez de ir sair. Obrigado por me terem tornado este sonho realidade.
Voçês são o que tenho de melhor."

lepetitfred 2006

3 comentários:

andre disse...

clap clap clap :)
Não ouvi o teu discurso e julgo (sou até capaz de ter a certeza) que tal só se realizou na tua mente... mas esses são, senão só, os únicos discursos no acesso real, antigo da palavra: a sós em comunhão deliciosamente silenciosa com os outros.
Parabéns preguiçoso ;) !

Anónimo disse...

o essencial... jantar de anos do Fred, só isto juntou muitos "macacos" ... e uma cadela.
tu és o elemento comum, venham mais 30!!! Parabens
Márcio

Anónimo disse...

Fred,

És um Senhor. Não tive oportunidade de estar nos teus anos para te parabenizar. Na realidade não fui convidado apesar de não ter a certeza se o teu status do MSN me fazia automaticamente aplicável ao convite. :)
Como dizes, a nossa vida dá muitas voltas, viajamos, derivamos e penamos com muita gente e por lugares remotos mas acabamos sempre por voltar a este nosso cantinho a que chamamos Porto.
Nessa altura tenho a certeza que nos voltaremos a cruzar, não sei se muitas não sei se poucas vezes, muito ou pouco tempo, mas sempre com a garantia de um momento bem passado entre amigos.

Um grande abraço,

Luis Marques