Geração F
A minha geração é a dos primeiros Filhos do 25 da Abril. Ser Filho implica ser concebido; após nove meses, nasce-se. Os primeiros Filhos (não prematuros) nasceram, portanto, posteriormente a 25 de Janeiro de 1975 (e o meu mano foi dos primeiros).
Somos Filhos de uma farsa. Filhos de uma falsa revolução. Filhos bastardos da mentira. Fomos criados com ela. E ninguém melhor do que nós se pôde aperceber dela. Ao contrário dos outros antes de nós, nascemos com uma pretensa ideia de liberdade, de democracia, de igualdade. Como crianças fomos confrontados com os porquês e nossos pais tiveram de justificar a falta de tais valores. Não conseguiram senão dizer que antes era ainda pior. E que eles tinham sido os heróis que o tinham conseguido. Mas o que é que nós vimos? O que nós nos apercebemos foi que a geração dos nossos pais é tudo menos isso. Pelo menos desde que nascemos. Inertes, conformados, resignados, convictos, críticos mas inactivos. Que tinham sido enganados e que continuam a sê-lo. A energia despendida para a luta provocou a procura de uma paz tranquilizadora. Não os condeno. Acredito-me nas suas boas intenções e estou-lhes eternamente grato. Principalmente aos meus. Mas as repercussões que tal provocou em nós estão ainda por adivinhar.
Somos muitos! Mimados e inconformados. Deram-nos tudo. Fizeram tudo por nós. Tivemos direitos. Tivemos desculpas. Tivemos o que quisemos. O que eles não puderam ter, ofereceram-nos a nós. Sem pedir nada em troca. Sem precisar batalhar; bastou pedir. Isso não é liberdade. Isso não é democracia. Isso não é igualdade. É promiscuidade. Estamos habituados a ter tudo, do bom e do melhor. Tivemos mota, carro, beep, telemóvel, roupa de marca, diploma. Se não podíamos entrar numa universidade pública, íamos para a privada. Podia não haver dinheiro em casa, mas havia sapatilhas novas. Não podíamos andar por aí sozinhos que se preocupavam connosco, tínhamos de estar contactáveis. Não podíamos perder tempo, tínhamos o mundo para conhecer; como os transportes públicos funcionavam mal, tivemos o nosso próprio meio de transporte. Obrigado pais, por tudo isso. Vou ter saudades desses tempos. Os amigos, as festas, as noites, os dias, as ferias, as aulas (nos cafés). O mundo foi um dia nosso. Sejamos gratos.
Formamo-nos. Viajamos. Começamos a trabalhar. Fomos para fora. Somos reconhecidos pela nossa qualidade. Mostramos valor. Voltamos. Aos poucos, vamos amadurecendo. Alguns já pensam em estabilizar. Outros já estabilizaram. Queremos casa própria. Pensamos em ter filhos. Chegou a nossa vez de construir. Mas isto está mau. Estamos mal habituados. E a concorrência é forte. Queremos todos o mesmo. Os mais novos querem o mesmo que nós. Também são mimados e inconformados. E cada vez somos mais... assim. Isto vai ter de dar para todos. Para isso temos de por isto direito. Chegou a altura de pormos em prática o que sabemos. Chegou a hora de mudar. Não tenhamos medo. Temos estudos. Temos experiência. Somos vividos. Somos bons. Não devemos nada a ninguém, se nos deram foi porque quiseram. Pode ser que se tenha escrito direito por linhas tortas...
Somos os Filhos. Somos o Fruto.
Chegou a nossa vez, sejamos Fodidos!
Le petit Fred, 2005
4 comentários:
Muito bom!Um incentivo ao movimento cívico português que, tirando o caso singular da morte nas estradas, não se une nem por mais uma, apesar das facadas diárias na crença política.
Way to go!
Tenho-o visto nos "bichos". Já percebeu que não morro de amores pelo presente, sobretudo porque os ingénuos ou idealistas, quase todos, se venderam ao vil metal.
Do Champas, do Belmiro ou do Amorim, não se espera que ....sejam beneméritos (o Champas até deu, depois da morte, 500 milhões de euros para a Fundação da saúde), agora dos Soares, dos Almeida Santos, dos Barrosos e afins, os tais que estiveram contra a Ditadura, e agora só se sentam em MESAS DE LUXO!!!! NÃO. Mil vezes não.
A sua geração (a minha é um pouco mais velha) poderá sobreviver desde que tenha VALORES (serem ambiciosos, sim, mas saber ter carácter e ética, também é importante). E um dos valores que se perdeu com "Abril" foi que "com o trabalho não se vai lá.....", e vai daí generalizou-se o "biscate", o "arranjinho", o "amigalhaço na Repartição", e hoje Vocês leem o Expresso, e não encontram empregos....de jeito, porque o bom está para "alguns". Sabe que muitos dos filhos da "nata" são Quadros da PT? Sampaio (filho), Flopes (irmão) and so on.....
E os outros não têm direito a comer?
Sabe quanto custa ter um filho a estudar no Colégio Moderno (sabe quem são os donos, não sabe....)? É isso FRATERNIDADE?
Se acreditarem, serão CAPAZES. Se não, vão ter que emigrar, como muitas gerações anteriores....
Pode ainda não ser a vez da «geração-rasca» ou da geração f, mas já esteve mais longe.
A primeira medida tem de ser acabar de vez com os direitos adquiridos desta cambada que tem usurpado os dinheiros publicos com reformas milionarias imerecidas e que agora tem o desplante de aumentar a idade da reforma para a nossa geração. Se fosse criado um tecto máximo de valor de reforma do tipo 10 x o ordenado minimo, a segurança social poupava milhões e não precisavamos de nos reformar só depois de morrermos.
Fantástico!
Eu não o teria dito melhor! Subscrevo a 100%!
Venham mais discuros de consciencialização!
A ilusão é uma maravilha quando nos movemos na ignorância...mas quando a busca da verdade nos espreme a alma e nos abre os olhos, o processo é irreversível! É necessário repensar isto que alguém, distraídamente, chamou de educação! Escreva-se antes processo de socialização ou normalização social, arquitectada sob os interesses dos mais velhos que, muitas vezes por insegurança e autodesconhecimento, nos foram instalando no disco duro!
Com um processo conduzido assim...depois é ver os crashes de actualização...
E depois vem a fase seguinte...as acusações populares infundadas e impulsivas-"a culpa é dos sistemas sociais, que são permeáveis!!! Os direitos adquiridos carecem de reflexão e justiça social!!!"
Afinal quanto custa viver? Qual o sentimento de co-responsabilidade para com a sociedade? Eu tenho direiros...agora deveres?Isso é para o vizinho do lado! Eu quero é sol, futebol e praia!"
Vá lá que com esta história da responsabilidade social surgiu uma área de intervenção social e empresarial(a chamada realidade)que tenta consciencializar as corporações-CSR-Corporate Social Responsability-e mesmo que seja adoptada dentro de uma jogada de marketing sempre é melhor que nada!
Mas muito há ainda para fazer...
NOTA-Esta mensagem pode causar indigestão mental. No caso de sentir outros sintoma por favor contacte o botão do monitor para desligar o ecrã e o problema aparentemente desaparecerá!
;-P
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